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Trump intensifica guerra comercial com tarifas: entenda o impacto global e a posição do Brasil
14 de abril de 2025 |

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14 de abril de 2025 |
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no início de abril um novo pacote de tarifas sobre produtos importados. A decisão reacendeu debates sobre protecionismo e seus impactos na economia global.
As medidas incluem uma tarifa-base de 10% para todos os países, além de sobretaxas mais altas aplicadas conforme o parceiro comercial. Em casos mais extremos, como o da China, os índices chegaram inicialmente a 34%, mas atingiram 145% no dia conforme anúncio no dia 10/04.
Segundo o governo americano, o objetivo é proteger a indústria nacional, estimular o investimento interno e gerar empregos. Mas, para outros países e analistas, a decisão representa o avanço de uma guerra comercial que pode afetar cadeias produtivas, encarecer produtos e desestabilizar os mercados.
O Brasil foi incluído na menor faixa de sobretaxa e, por isso, deve sentir um impacto mais leve em relação a outras economias. Ainda assim, as exportações brasileiras podem ser afetadas, e o cenário exige atenção.
Neste artigo, você vai entender os motivos por trás das novas tarifas, as reações imediatas do mercado, os possíveis desdobramentos e o que está em jogo para o Brasil.
Essas tarifas são taxas cobradas sobre produtos importados. Na prática, elas funcionam como um custo extra que empresas precisam pagar para trazer mercadorias de fora do país.
Esse valor costuma ser calculado como um percentual sobre o preço do produto. Por exemplo: se uma tarifa de 25% é aplicada a um item de US$ 100, o importador precisará pagar US$ 25 adicionais ao governo americano.
Esses custos, por sua vez, muitas vezes são repassados ao consumidor final — o que encarece o produto na prateleira.
Para Trump, as tarifas são uma ferramenta estratégica. Ele defende que a taxação sobre produtos estrangeiros estimula o consumo de bens produzidos internamente, fortalece a indústria nacional e ajuda a reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos — ou seja, a diferença entre o que o país importa e o que exporta.
Além disso, Trump costuma justificar as tarifas como uma resposta aos que ele chama de “jogos desleais” praticados por outros países. Segundo o presidente, os EUA foram explorados durante décadas e agora precisam reagir com firmeza para equilibrar as relações comerciais.
As novas tarifas também têm um caráter político. Durante seu mandato atual, Trump tem usado os tributos como forma de pressionar parceiros estratégicos — especialmente China, México e Canadá — a colaborar com questões como migração e combate ao tráfico de drogas.
Apesar da defesa enfática da Casa Branca, as tarifas vêm gerando críticas até mesmo dentro do Partido Republicano. Aliados históricos do presidente alertam para os riscos econômicos das medidas e questionam a lógica por trás dos percentuais aplicados a cada país.
A nova rodada de tarifas anunciada pelo presidente Donald Trump segue uma lógica que, à primeira vista, parece complexa. A apresentação da tabela com os percentuais, feita em pleno Jardim das Rosas da Casa Branca, sugeria um cálculo técnico embasado em diversas variáveis — como tarifas já existentes e barreiras regulatórias aplicadas por outros países.
Entretanto, na prática, a fórmula utilizada pela equipe de Trump é bem mais simples do que parecia. O cálculo se baseia no déficit comercial dos Estados Unidos com cada país, isto é, na diferença entre o que os EUA importam e o que exportam para esse parceiro.
Segundo a própria administração, o raciocínio é o seguinte: pega-se o valor do déficit comercial com um determinado país, divide-se pelo total de bens importados desse país e, depois, divide-se novamente por dois. O resultado, arredondado, é o percentual da tarifa.
No caso da China, por exemplo, os EUA registram um déficit de US$ 295 bilhões. Como o total de importações chinesas é de US$ 440 bilhões, a conta ficou inicialmente:
Foi esse o percentual aplicado à maioria dos produtos chineses. A mesma lógica levou a uma tarifa de 20% sobre produtos da União Europeia, onde os EUA também apresentam um déficit considerável.
Embora o governo tenha usado o termo “tarifas recíprocas” para justificar as medidas, o conceito não se aplica a todos os casos.
Tarifas recíprocas, no sentido tradicional, seriam aquelas que espelham os encargos e barreiras que outros países já impõem aos produtos americanos, incluindo impostos, exigências regulatórias e tarifas técnicas.
No entanto, a própria metodologia divulgada pela Casa Branca mostra que essa não foi a base para todas as decisões. Alguns países, como o Reino Unido, foram taxados mesmo mantendo superávit comercial com os EUA — ou seja, mesmo comprando mais dos americanos do que vendendo para eles.
O Brasil também foi incluído nesse grupo, recebendo a tarifa mínima de 10%, apesar de não estar entre os países que mais contribuem para o déficit comercial americano.
A nova política tarifária de Donald Trump teve repercussão imediata no cenário global. Diversos países manifestaram preocupação com os impactos econômicos e políticos da medida, além de já planejarem contramedidas para proteger seus mercados.
O governo britânico, por exemplo, tentou adotar um tom conciliador. Jonathan Reynolds, secretário de Comércio, declarou que o Reino Unido continua sendo um “aliado próximo” dos Estados Unidos. Ele reforçou que a prioridade agora é negociar um acordo que reduza os danos causados pelas novas tarifas.
Já o presidente francês Emmanuel Macron foi um dos mais críticos à decisão americana. Segundo ele, a política de tarifas “não é coerente”, ameaça as cadeias globais de valor, pode acelerar a inflação e causar perda de empregos.
Após o anúncio oficial das tarifas, Macron sugeriu que empresas europeias suspendam seus investimentos previstos nos Estados Unidos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também reagiu com firmeza. Ela classificou a medida como um passo na direção errada e disse que a União Europeia já tem um plano de retaliação preparado. “Não queremos necessariamente retaliar. Mas se for necessário, temos um plano forte para isso e vamos usá-lo”, afirmou.
A China foi a primeira a reagir com tarifas retaliatórias. Na sexta-feira (4), Pequim anunciou que iria aplicar uma tarifa de 34% sobre produtos importados dos Estados Unidos — exatamente o mesmo percentual que Trump impôs aos bens chineses.
Contudo, a Casa Branca confirmou na quinta-feira (10) que as tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos importados da China chegaram ao patamar de 145%. A medida representa mais um capítulo na crescente tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo.
A nova alíquota é resultado de uma série de aumentos anunciados nas últimas semanas. Em fevereiro, os EUA adicionaram 10% às tarifas já existentes sobre itens chineses, elevando a carga tributária total para 20%. Já no início de abril, as “tarifas recíprocas” adionaram 34% às importações da China, levando o total para 54%.
A resposta de Pequim veio logo em seguida, com a imposição de tarifas de 34% sobre produtos norte-americanos. Como retaliação, Washington anunciou uma nova rodada de aumentos, adicionando mais 50% às tarifas sobre os bens chineses, totalizando 104%.
Com a decisão do governo chinês de subir suas tarifas a 84% e, depois, a 125%, Trump anunciou um novo aumento de 125% sobre os produtos chineses, acumulando o valor com as tarifas anteriores e atingindo o atual patamar de 145%.
Boa parte das exportações chinesas aos EUA inclui bens de alto consumo: smartphones, computadores, baterias de lítio, brinquedos e videogames. No entanto, a lista vai muito além e inclui desde parafusos até caldeiras industriais.
Além da retaliação direta, a China vem adotando outras estratégias para mitigar os efeitos do tarifaço. Entre elas, está a desvalorização do yuan, sua moeda, o que torna os produtos chineses mais competitivos no exterior.
Embora o Brasil tenha sido incluído no grupo de países com a tarifa mínima de 10%, a decisão não passou despercebida por aqui.
Mesmo com impacto menor do que o enfrentado por países como China ou União Europeia, o Brasil ainda pode sentir os efeitos em setores estratégicos, como o agronegócio e a indústria de transformação.
O maior efeito, no entanto, pode vir de forma indireta. A guerra tarifária aumentou a turbulência nos mercados, provocando quedas nas bolsas, alta do dólar e maior aversão ao risco entre investidores.
Economistas alertam que, no médio prazo, a incerteza global tende a reduzir o ritmo de crescimento econômico mundial. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), as novas tarifas americanas podem reduzir o comércio global em até 1% ainda este ano.
Apesar dos riscos, há quem veja janelas de oportunidade. Com produtos de países concorrentes sendo sobretaxados, algumas exportações brasileiras podem ganhar competitividade no mercado americano, principalmente no setor agropecuário.
Além disso, a China, em busca de alternativas aos produtos americanos, pode ampliar as compras de commodities brasileiras, como soja e carne. Esse movimento já foi observado em disputas comerciais anteriores entre os dois países.
Outro desdobramento possível envolve o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Com as tensões entre EUA e Europa se intensificando, cresce o interesse europeu em diversificar parceiros comerciais, o que pode acelerar a implementação do acordo, beneficiando a indústria brasileira.
Mesmo com as possíveis oportunidades, há pontos de preocupação importantes. Alguns dos produtos mais relevantes da pauta exportadora brasileira sofreram tarifas específicas mais altas, como aço e alumínio — taxados em 25% independentemente da origem em um pacote anterior de medidas.
Juntos, eles somaram US$ 2,8 bilhões em exportações para os EUA em 2024, ficando atrás apenas do petróleo. Outro setor afetado foi o automotivo. Autopeças brasileiras também foram atingidas pela tarifa de 25%, o que pode prejudicar a competitividade da indústria nacional.
Além disso, Washington avalia impor novas tarifas sobre produtos como cobre e madeira — itens com relevância crescente na balança comercial brasileira.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia o tarifaço com “cautela e preocupação”. Embora algumas oportunidades pontuais possam surgir, como no setor do café — que, mesmo com tarifa de 10%, sai em vantagem frente a concorrentes como Vietnã (46%) e Suíça (31%) —, o saldo geral ainda é nebuloso.
Isso porque os Estados Unidos são o principal destino de produtos manufaturados brasileiros, ao passo que a China absorve principalmente commodities. Se o comércio com os EUA for afetado de forma estrutural, a indústria brasileira pode sentir os impactos antes mesmo que os eventuais ganhos com a China se consolidem.
A ofensiva tarifária de Donald Trump marca um novo capítulo na tensão comercial global. Mesmo com o Brasil escapando das tarifas mais duras, os desdobramentos ainda estão longe de claros.
Por um lado, o país pode colher ganhos pontuais. A elevação das tarifas sobre grandes exportadores abre brechas para que produtos brasileiros ganhem competitividade em mercados estratégicos.
Além disso, a possível reconfiguração da balança comercial entre China e Estados Unidos pode fortalecer ainda mais a parceria entre Brasil e Pequim, sobretudo no agronegócio.
Por outro lado, o cenário é de instabilidade. Setores relevantes para a indústria nacional, como aço, alumínio e autopeças, foram diretamente impactados.
O aumento da tensão internacional tende a reduzir o comércio global, esfriar economias e gerar volatilidade cambial, fatores que pesam sobre a economia brasileira como um todo.
Para o diretor de tesouraria do Braza, Bruno Perottoni, o cenário demanda muita atenção:
É uma medida sem precedentes, com reações em cadeia em países e segmentos diversos. Além das imposições, haverá retaliações e especulação sobre o assunto. Isso requer cautela por parte do investidor e um conservadorismo por parte do empresário, que deve sempre se ater ao seu negócio e não a especulação cambial
afirma ele.
Para se proteger da volatilidade do câmbio, vale a pena adotar estratégias de hedge cambial no comércio internacional. Entre em contato com o time do Braza Bank e veja como podemos contribuir com o seu planejamento!