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Como atua o Tesouro Americano e qual seu papel na economia global
16 de abril de 2025 |

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16 de abril de 2025 |
O Tesouro dos Estados Unidos é um dos pilares mais importantes da economia mundial. Seus títulos são considerados os investimentos mais seguros do planeta, uma espécie de termômetro da confiança global.
Mas esse cenário começa a mostrar sinais de desgaste. O avanço acelerado da dívida pública americana e as recentes decisões políticas, especialmente após a volta de Donald Trump à presidência, acendem um alerta sobre a estabilidade fiscal dos EUA.
Neste artigo, você vai entender como funciona o Tesouro Americano, quais crises já colocaram sua credibilidade à prova e, principalmente, como tudo isso pode mexer com o câmbio e a economia aqui no Brasil.
Porque, em um mundo cada vez mais conectado, nenhum país passa ileso às decisões da maior potência econômica do planeta. Vamos lá?
O Tesouro Americano — ou Treasury, como é conhecido globalmente — é o coração das finanças dos Estados Unidos. Ele é o responsável por emitir os títulos da dívida pública americana, que funcionam como uma forma de o governo se financiar.
No entanto, o Tesouro faz muito mais do que isso. Ele também cuida da política fiscal do país: arrecada impostos, paga as contas do governo e gerencia o caixa federal — ou seja, controla quanto entra e quanto sai de dinheiro nos cofres públicos.
Esse papel o coloca no centro das decisões que moldam a economia americana. Seus títulos, como os famosos Treasury Bonds, são disputados por investidores do mundo todo, desde bancos centrais e fundos soberanos até grandes instituições financeiras e fundos de pensão.
Eles enxergam nesses papéis uma combinação de segurança, liquidez e um mercado extremamente transparente.
O Tesouro Americano e o Federal Reserve (Fed) são duas entidades-chave no controle da política econômica dos Estados Unidos, mas suas funções são distintas, embora interligadas.
Como visto, o Tesouro é responsável pela emissão de títulos da dívida e pela administração das finanças públicas, enquanto o Fed atua como o banco central dos EUA, controlando a política monetária, as taxas de juros e o fornecimento de moeda.
A colaboração entre essas duas instituições é essencial para a estabilidade econômica dos EUA e tem repercussões diretas no mercado global.
Por exemplo, quando o Tesouro emite novos títulos da dívida, isso pode impactar a oferta de dinheiro no sistema financeiro. O Federal Reserve, por sua vez, pode ajustar a taxa de juros para manter a estabilidade econômica e controlar a inflação. Essas interações afetam a rentabilidade dos Treasuries e a atratividade do dólar, o que, por sua vez, influencia os mercados internacionais.
Além disso, o comportamento do Fed em relação às taxas de juros pode impactar os rendimentos dos Treasuries, influenciando o fluxo de capitais entre os EUA e países emergentes.
Quando o Fed decide aumentar os juros, os rendimentos dos títulos do Tesouro sobem, o que pode atrair investidores internacionais, enfraquecendo moedas de países emergentes, como o real, e aumentando o custo de sua dívida externa.
A economia dos Estados Unidos está profundamente conectada ao restante do mundo. Não à toa, o país é frequentemente visto como a espinha dorsal do sistema financeiro internacional.
Quando um governo quer emitir dívida no exterior, por exemplo, a taxa de juros que ele precisa oferecer aos investidores costuma partir da taxa paga pelos Treasuries, os títulos do Tesouro Americano. A essa base, soma-se um “prêmio de risco”, de acordo com a confiança que o mercado tem naquele país.
Isso acontece porque os títulos americanos são historicamente considerados os investimentos mais seguros do mundo. Com baixíssima chance de calote, eles funcionam como uma referência para o restante do mercado — são, na prática, o principal termômetro global de juros.
O ex-diretor do Banco Central do Brasil, Tony Volpon, resumiu bem esse papel em entrevista ao jornal O Globo:
É exatamente isso. Pequenas oscilações nas taxas dos Treasuries podem provocar efeitos em cadeia, movimentando economias de todos os tamanhos.
Mais do que um instrumento de dívida, o Tesouro Americano funciona como um pilar da estabilidade global. Suas taxas influenciam políticas monetárias, mexem com o câmbio, afetam o crescimento econômico e moldam o comportamento dos mercados.
Até o início de 2025, esses títulos ainda eram vistos como um refúgio seguro para quem buscava proteção em tempos de incerteza. Mas, diante de medidas recentes do governo norte-americano, esse cenário começou a mudar.
Embora os títulos do Tesouro Americano sejam amplamente reconhecidos como de baixo risco, a entidade já enfrentou momentos de crise que levantaram questões sobre sua solidez. O exemplo mais memorável ocorreu durante a crise financeira global de 2008, quando os EUA enfrentaram uma grande recessão.
Outro momento delicado ocorreu em 2011, quando o país ficou à beira de um calote técnico. O Congresso não conseguiu chegar a um acordo sobre o aumento do teto da dívida, o que colocou em risco a capacidade do governo de honrar seus compromissos financeiros.
Em 2025, o cenário volta a inspirar cautela: a dívida pública segue em alta, as taxas de juros aumentaram e o ambiente político continua instável. Essa combinação remete à tensão vivida em crises anteriores, como o impasse do teto da dívida e os reflexos da crise de 2008.
Esses episódios mostram que, apesar da resiliência, o Tesouro Americano está sujeito a pressões econômicas e políticas. A estabilidade futura vai depender da forma como os EUA conduzem sua política fiscal e administram o crescimento da dívida.
Como você aprendeu, o Tesouro Americano influencia as economias emergentes, que são sensíveis a flutuações nas taxas de juros e nas políticas fiscais dos Estados Unidos. Veja como os títulos de dívida dos EUA afetam economias emergentes como a do Brasil.
Como você já entendeu, os títulos do Tesouro Americano são vistos como seguros, atraindo capital de investidores internacionais. Assim, quando os rendimentos dos Treasuries aumentam, os investidores podem mover seu capital para os EUA em busca de retornos mais elevados e maior segurança.
Essa movimentação pode resultar em uma fuga de capital de economias emergentes. Esse fluxo de saída de capital pode ter várias consequências para economias emergentes. Uma delas é a redução da disponibilidade de crédito e a dificuldade para financiar projetos de infraestrutura e crescimento.
O aumento dos juros americanos costuma fortalecer o dólar. Isso afeta diretamente países com dívidas em moeda estrangeira: a valorização do dólar encarece o pagamento dessas obrigações e pressiona as moedas locais, como o real.
Com a moeda desvalorizada, as importações ficam mais caras, o que pode elevar a inflação. Além disso, os exportadores perdem competitividade, e os consumidores locais sentem o impacto no bolso.
Os países emergentes frequentemente emitem dívida externa, e muitas vezes essa dívida é denominada em dólares. Quando as taxas de juros do Tesouro Americano aumentam, o custo de financiamento para os países emergentes também tende a subir.
Em outras palavras, quando os rendimentos dos Treasuries sobem, os países emergentes enfrentam uma elevação nos custos de captação de recursos no mercado internacional. Isso pode resultar em uma pressão adicional sobre os orçamentos que podem precisar redirecionar recursos para o pagamento de dívidas, afetando seu crescimento econômico.
O Tesouro Americano também influencia os mercados de commodities, importantes para muitas economias emergentes. Um aumento nas taxas de juros nos EUA pode fazer com que o dólar se valorize, o que pode resultar em uma queda nos preços de commodities, como petróleo e metais preciosos.
Para países emergentes que dependem da exportação de commodities, uma queda nos preços pode reduzir suas receitas de exportação. Por exemplo, o Brasil, que é um grande exportador de commodities, pode enfrentar dificuldades econômicas se o aumento nas taxas de juros nos EUA resultar em uma queda nos preços de petróleo ou grãos.
Nos últimos anos, ganhou força um movimento liderado por grandes economias emergentes e blocos como os BRICS: a chamada “desdolarização”. Em termos simples, trata-se da tentativa de reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais e financeiras internacionais.
Essa tendência tem impacto direto sobre o papel do Tesouro Americano no cenário global e, no longo prazo, pode alterar o equilíbrio de poder financeiro no mundo. A hegemonia do dólar, antes incontestável, começa a ser questionada.
Um exemplo concreto aconteceu em 2023, quando Brasil e China firmaram um acordo para realizar exportações diretamente em reais e yuans, sem passar pelo dólar como moeda intermediária. Ainda que essa prática esteja longe de ser dominante, representa uma mudança gradual — e significativa — no sistema global.
Entre tensões políticas internas, aumento da dívida pública, questionamentos sobre a estabilidade fiscal dos EUA e o avanço da desdolarização, o que antes era sinônimo de segurança absoluta passou a ser visto com mais cautela.
O futuro do Tesouro Americano vai depender da capacidade dos EUA de manter responsabilidade fiscal, investir em inovação monetária e fortalecer sua diplomacia econômica. Mesmo diante dos desafios, o Tesouro segue como uma engrenagem essencial da economia mundial — mas já não opera com a mesma blindagem de antes.
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