conteúdo / Comércio Exterior
O que é a guerra comercial entre EUA e China e como ela pode causar estagflação global?
14 de abril de 2025 |

conteúdo / Comércio Exterior
14 de abril de 2025 |
A tensão entre Estados Unidos e China voltou a escalar em 2025, com a imposição de tarifas bilionárias que ameaçam desestabilizar a economia global.
Na última semana, Washington anunciou tarifas mínimas de 145% sobre produtos chineses, o que gerou uma reação imediata de Pequim, que elevou suas próprias taxas de importação para até 125%.
Embora o governo Trump tenha anunciado uma exceção para eletrônicos — em especial para aliviar o impacto sobre gigantes como a Apple —, o movimento não foi suficiente para conter o clima de incerteza nos mercados.
Mais do que uma disputa bilateral, o embate entre as duas maiores economias do planeta está mexendo com os alicerces do comércio internacional. A intensificação da guerra comercial compromete cadeias globais de produção e reacende o temor de um cenário particularmente preocupante: a estagflação — quando a economia para de crescer, mas os preços continuam subindo.
Entenda melhor sobre esse cenário e o que está em jogo agora!
Uma guerra comercial acontece quando dois ou mais países impõem barreiras econômicas entre si, como tarifas, cotas de importação ou restrições regulatórias. O objetivo é normalmente proteger suas economias.
Na prática, a guerra comercial é como uma disputa em que cada lado tenta tornar os produtos estrangeiros mais caros ou menos competitivos, incentivando o consumo de bens produzidos internamente.
Esse tipo de conflito geralmente começa quando um país acredita estar em desvantagem nas trocas comerciais. Pode ser por causa de um déficit na balança comercial, práticas consideradas desleais (como subsídios a empresas locais ou desvalorização artificial da moeda), ou ainda por questões estratégicas e geopolíticas.
As medidas mais comuns em guerras comerciais são:
Embora os governos usem essas medidas para proteger setores nacionais e gerar empregos, os efeitos colaterais costumam aparecer também, inclusive no curto prazo. Empresas enfrentam custos maiores, cadeias de suprimento são interrompidas, e consumidores acabam pagando mais caro por produtos e serviços.
No longo prazo, uma guerra comercial pode desacelerar o crescimento econômico global e aumentar o risco de inflação — ou até mesmo de estagflação, como tem sido debatido atualmente.
A disputa econômica entre Estados Unidos e China se intensificou de forma acelerada ao longo de 2025. O governo americano, sob a liderança de Donald Trump, retomou uma postura fortemente protecionista, mirando tarifas sobre países com superávit na balança comercial com os EUA — com destaque para a China.
Logo no início do ano, uma ordem executiva impôs tarifas de 10% sobre produtos chineses e de 25% sobre itens vindos do México e do Canadá. Apesar de uma breve suspensão das tarifas para os países vizinhos, a ofensiva contra a China continuou ganhando força.
A resposta de Pequim não demorou. Em fevereiro, o governo chinês anunciou tarifas que afetavam setores estratégicos dos EUA. Entraram na lista produtos como carvão, gás natural liquefeito, petróleo bruto, máquinas agrícolas, caminhonetes e carros de grande porte.
Essas medidas representaram um claro sinal de que a China não apenas reagiria à altura, mas também escolheria pontos sensíveis da economia americana para pressionar Washington.
Com o conflito comercial em curso, Trump passou a mirar produtos ainda mais relevantes para a indústria global. Foram aplicadas tarifas de 25% sobre aço e alumínio importados de diversos países — o que, somado às tarifas anteriores, fez os produtos chineses atingirem um custo adicional superior a 45%.
Na sequência, o foco passou para o setor automotivo. O governo anunciou tarifas de 25% sobre carros e peças automotivas, com cronogramas diferentes para entrada em vigor. O impacto foi imediato em empresas multinacionais e cadeias de suprimentos espalhadas pelo mundo.
A retórica da “tarifa recíproca” passou a guiar a política comercial americana. Na prática, isso significava aplicar aos outros países as mesmas taxas que eles já cobravam dos EUA. Essa abordagem elevou ainda mais a tensão global e gerou insegurança jurídica e econômica.
Em abril, a disputa atingiu seu ápice. Trump anunciou um aumento drástico das tarifas sobre produtos chineses, chegando a pelo menos 145%. A China reagiu quase imediatamente, elevando suas próprias tarifas para 125%.
Apesar do tom agressivo, houve uma exceção significativa em 14/04. O governo americano isentou smartphones, laptops e outros eletrônicos das tarifas mais pesadas. A medida buscava proteger grandes empresas de tecnologia dos EUA, que dependem fortemente da produção na Ásia — como a Apple.
Essa brecha sinalizou que, mesmo em meio a um conflito comercial intenso, interesses corporativos estratégicos ainda influenciam as decisões políticas.
Esse vai-e-vem de tarifas impactou diretamente as duas maiores economias do planeta e provocou incertezas em cadeias globais de produção e comércio. À medida que a disputa se prolonga, cresce o temor de que seus efeitos derrubem o crescimento global.
Na prática, o que está em jogo é a liderança econômica global. Os EUA buscam recuperar seu peso na indústria, reduzir a dependência de produtos estrangeiros e frear o avanço tecnológico da China.
A estagflação é um fenômeno econômico raro e desafiador que combina estagnação econômica com alta inflação. Ou seja, a economia para de crescer — ou até encolhe — ao mesmo tempo, em que os preços continuam subindo.
É como se um carro estivesse parado no trânsito com o motor superaquecendo: não anda, mas consome cada vez mais combustível.
Esse cenário é especialmente preocupante porque vai contra a lógica tradicional da economia, onde normalmente uma inflação alta está associada a uma economia aquecida. Na estagflação, o que vemos é o pior dos dois mundos: desemprego em alta, consumo em baixa e custo de vida cada vez mais elevado.
Nesse tipo de situação, os instrumentos clássicos da política monetária, como aumento de juros para conter a inflação, ou corte de juros para estimular o crescimento, tendem a perder eficácia.
Por exemplo, se um banco central decide aumentar os juros para segurar os preços, pode acabar agravando a recessão. Se a entidade reduz os juros para reaquecer a economia, pode estimular ainda mais a inflação. É um dilema sem solução fácil, que exige medidas equilibradas e de longo prazo.
Além disso, a estagflação costuma afetar desigualmente diferentes setores e faixas da população, o que complica ainda mais a formulação de políticas públicas eficazes.
O atual conflito comercial entre Estados Unidos e China cria um terreno fértil para o surgimento da estagflação. As tarifas elevadas encarecem produtos importados, pressionando os preços para cima.
Ao mesmo tempo, o aumento de custos para empresas e consumidores reduz o ritmo de investimentos e o consumo — o que freia o crescimento econômico.
Além disso, as rupturas nas cadeias globais de fornecimento geram escassez de insumos, atrasos na produção e incerteza nos mercados. Com menos previsibilidade, empresários seguram investimentos, enquanto os consumidores ficam mais cautelosos.
Esse cenário pode ser agravado por fatores geopolíticos e climáticos, criando um ciclo de estagnação com inflação persistente.
As novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, mais agressivas do que o esperado, provocaram uma onda de revisões nas projeções econômicas.
Instituições financeiras e consultorias passaram a prever um cenário mais negativo para 2025, com impactos diretos sobre o crescimento, a inflação e o risco de recessão.
O risco de recessão global aumentou de forma significativa. Segundo o JPMorgan, a probabilidade de retração econômica global saltou de 40% para 60% após os anúncios das tarifas. A Oxford Economics também alertou que a economia dos EUA se tornou mais vulnerável e que os riscos crescem à medida que as tarifas se mantêm em vigor.
O cenário econômico global está em constante transformação, impulsionado pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, cujas consequências vão muito além das tarifas. Embora a situação atual tenha gerado incertezas sobre o futuro, o mais importante agora é manter uma atenção redobrada sobre os próximos acontecimentos.
As tarifas elevadas impostas por Trump não são um fenômeno isolado, mas fazem parte de um movimento estratégico para reconfigurar o comércio internacional. No entanto, essa reconfiguração pode desencadear efeitos econômicos imprevistos, com a possibilidade de desaceleração do crescimento e o aumento de riscos, como a estagflação.
Além disso, a fragmentação das cadeias globais de produção coloca em risco setores-chave da economia mundial, como a tecnologia, as commodities e a indústria automotiva, criando um ambiente de maior volatilidade.
O Brasil, por exemplo, enfrenta desafios, mas também pode explorar oportunidades ao se posicionar como fornecedor estratégico em áreas como alimentos, energia e minerais.
Dado o caráter imprevisível dos próximos passos, seja em termos de novas tarifas, medidas políticas ou reações do mercado, é fundamental que empresas, investidores e governos permaneçam atentos às tendências econômicas.
Se você quer se proteger da volatilidade e aumentar a previsibilidade da sua operação internacional, seja com investimentos ou no comércio exterior, entre em contato com os especialistas do Braza Bank e veja como podemos contribuir com o seu planejamento.