conteúdo / Educação Cambial
Dívida pública brasileira atualmente e o impacto no câmbio
23 de abril de 2025 |

conteúdo / Educação Cambial
23 de abril de 2025 |
Você já parou para pensar no que a dívida pública brasileira tem a ver com o preço do dólar, seus investimentos, o planejamento financeiro da sua empresa ou até o preço dos produtos no mercado? Embora pareça um assunto distante do nosso dia a dia, a verdade é que o tamanho da dívida do governo impacta diretamente a economia.
A dívida pública é um dos principais termômetros da saúde fiscal do país e tem influência direta sobre o câmbio, os juros e a confiança dos investidores. Por isso, entender como ela funciona e por que cresce é fundamental para quem quer tomar decisões financeiras mais conscientes.
Neste artigo, você vai descobrir o que é a dívida pública, por que ela afeta o valor do real frente ao dólar e quais são os possíveis caminhos para o Brasil lidar com esse desafio. Vamos nessa?
A dívida pública é o total de recursos que o governo precisa tomar emprestado para cobrir despesas que superam a arrecadação.
Em outras palavras, sempre que o Estado gasta mais do que recebe com impostos, contribuições e outras fontes de receita, ele precisa recorrer a empréstimos para manter suas atividades em funcionamento.
Esse endividamento pode ocorrer em diferentes níveis — federal, estadual ou municipal. No entanto, a dívida do Governo Federal, também chamada de Dívida Pública Federal (DPF), que costuma concentrar a maior atenção.
Ela serve para financiar desde o pagamento de aposentadorias até a construção de estradas, passando por investimentos em saúde, educação e programas sociais.
Para captar esses recursos, o Tesouro Nacional emite títulos públicos, que são comprados por bancos, fundos de investimento, empresas e até pessoas físicas.
Ao adquirir esses títulos, os investidores estão, na prática, emprestando dinheiro ao governo. Em troca, eles recebem juros no prazo acordado. Um exemplo comum é o Tesouro Direto, acessível a qualquer cidadão.
Embora o Governo Federal pudesse, em teoria, imprimir mais dinheiro para cobrir os gastos, essa prática traria sérios riscos à economia, como alta da inflação e perda do poder de compra da moeda. Por isso, a emissão de títulos é o caminho mais seguro e controlado de financiar o déficit público.
A dívida pública também pode ser dividida entre interna e externa. A dívida interna é aquela negociada em reais, no país. Já a dívida externa é contratada em moedas estrangeiras, como o dólar ou o euro, e costuma estar associada a empréstimos internacionais ou captação de recursos fora do Brasil.
Agora que você já conhece a origem da dívida pública, vale a pena entender como ela evoluiu nas últimas décadas e os fatores que influenciaram esse movimento.
O lançamento do Plano Real, em 1994, contribuiu para a estabilidade econômica e a melhora no perfil da dívida pública, com maior emissão de títulos prefixados e prazos mais longos.
Em 1999, a crise nos países emergentes e a adoção do câmbio flutuante elevaram os juros. Com boa parte da dívida atrelada ao dólar e a desvalorização do real, o volume da dívida de curto prazo chegou a 54,9%.
Em 2002, a dívida pública federal correspondia a 55,5% do PIB, com forte exposição cambial. Em 2003, o governo aumentou a meta de superávit primário, sinalizando compromisso com o equilíbrio fiscal. A medida ajudou a atrair confiança do mercado. Em 2008, a dívida federal alcançou R$ 1,4 trilhão, sendo 91% interna.
A dívida bruta era de 51,8% do PIB em 2010. Nos anos seguintes, passou por aumentos sucessivos: 56,3% (2014), 69,8% (2016), 73,7% (2017) e 75,3% (2018).
Em 2019, caiu levemente para 74,3%. Com a pandemia em 2020, o aumento dos gastos públicos e a queda do PIB elevaram o índice para 88,8%. Em 2021, ela recuou para 80,3%.
A Dívida Pública Federal continua crescendo, acompanhando o esforço do governo para captar recursos e financiar seus compromissos.
Só em fevereiro de 2025, o estoque da DPF subiu 3,3%, passando de R$ 7,253 trilhões para R$ 7,492 trilhões. Apesar da alta, o montante continua dentro das projeções do Plano Anual de Financiamento (PAF), que prevê que a dívida feche o ano entre R$ 8,1 trilhões e R$ 8,5 trilhões.
Dois fatores explicam esse avanço:
O prazo médio da DPF recuou levemente para 4,08 anos. Esse indicador mostra quanto tempo, em média, o governo leva para refinanciar sua dívida. Quanto maior esse prazo, maior a confiança do mercado na capacidade do governo de cumprir com seus compromissos.
A maior parte da dívida continua sendo interna — ou seja, emitida em reais e vendida dentro do país. Em fevereiro, a Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) chegou a R$ 7,178 trilhões.
Já a dívida externa subiu para R$ 314,34 bilhões, puxada pela valorização do dólar e pela emissão de novos papéis no exterior.
A DPF é formada por diferentes tipos de títulos, que variam conforme o tipo de correção:
As instituições financeiras ainda são os principais credores da dívida interna, com 29,8% de participação.
Em seguida vêm os fundos de pensão (24,1%) e os fundos de investimento (22,3%). A participação de estrangeiros, que vinha crescendo, recuou para 9,7%, refletindo uma leve diminuição do apetite externo por papéis brasileiros.
O colchão — uma espécie de reserva de segurança para momentos de estresse no mercado — subiu para R$ 889 bilhões em fevereiro, após ter recuado no mês anterior.
Considerando os números de fevereiro, ele cobre cerca de 6,7 meses de vencimentos da dívida, o que oferece uma margem de proteção em caso de turbulência.
Diante do crescimento da Dívida Pública Federal, o Governo Federal tem sinalizado compromisso com o equilíbrio fiscal. A proposta de superávit primário para os próximos anos está entre as principais medidas nesse sentido, mas enfrenta críticas quanto à sua viabilidade.
Veja os principais pontos:
O Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, enviado ao Congresso em abril, prevê um superávit primário de R$ 38,2 bilhões para o próximo ano — valor R$ 3,9 bilhões acima da meta estipulada de R$ 34,3 bilhões, o equivalente a 0,25% do PIB.
Mesmo com a margem de tolerância prevista pelo novo arcabouço fiscal (que permite variação de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos), o governo indica que pretende entregar um resultado positivo, e não apenas cumprir a meta “no limite”.
As metas continuam aumentando nos anos seguintes: 0,5% do PIB em 2027, 1% em 2028 e 1,25% em 2029. Em termos absolutos, os superávits projetados variam de R$ 73 bilhões em 2026 para até R$ 263 bilhões em 2029.
Outra frente adotada pelo governo é a revisão de despesas obrigatórias. O PLDO de 2026 prevê cortes em três frentes principais:
A soma das economias com essas revisões alcança R$ 50,8 bilhões ao longo de cinco anos.
Apesar da proposta, analistas e economistas avaliam que o cenário desenhado pelo PLDO é excessivamente otimista.
Um dos principais pontos de crítica é a previsão de R$ 118 bilhões em receitas adicionais, derivadas de medidas arrecadatórias que ainda não foram formalmente apresentadas.
Além disso, parte do superávit previsto se apoia na exclusão de R$ 55 bilhões em precatórios, permitida após decisão do Supremo Tribunal Federal. Para muitos especialistas, essas estratégias elevam o risco de frustração da meta e apontam para um estrangulamento orçamentário a partir de 2026, com potencial de comprometer o funcionamento da máquina pública.
A dívida pública e a taxa de câmbio estão intimamente ligadas, e os movimentos de uma afetam diretamente os movimentos da outra.
Quando o governo emite dívida, especialmente em moeda estrangeira, ele cria um compromisso de pagamento em uma moeda que pode não ser a mesma da moeda local. Isso significa que, se o valor da moeda nacional cair, o custo dessa dívida tende a aumentar, pois será necessário mais da moeda local para pagar o montante devido.
Se o Brasil, por exemplo, tem uma parte significativa da sua dívida externa, uma desvalorização do real em relação a outras moedas pode aumentar os pagamentos da dívida. Isso cria um ciclo de pressão sobre as finanças públicas, já que o governo precisaria de mais recursos para honrar esses compromissos.
Além disso, variáveis externas, como políticas econômicas de outros países, também afetam essa relação. A política protecionista dos Estados Unidos, por exemplo, com tarifas de importação elevadas, pode gerar volatilidade nos mercados financeiros globais e afetar negativamente o câmbio brasileiro.
Em cenários como esse, o aumento do risco e a desvalorização da moeda resultam em uma pressão adicional sobre a dívida pública, criando um ciclo difícil de controlar.
Para mais conteúdos sobre economia, câmbio e finanças e como esses temas influenciam o nosso dia a dia, não deixe de acompanhar nosso blog.